terça-feira, 31 de maio de 2011

2 - Marcha, Soldado!

Imagine um desses finais de semana em que você não tem ninguém para sair. Pega a lista de telefones na agenda, liga para algumas garotas: umas atendem, mas já têm compromisso; outras não atendem e nem sequer retornam. Assim estava o sábado de Vicente!

Entretanto, se fosse uma pessoa qualquer ficaria desanimado, entediado, reclamaria da vida, se faria de vítima... Mas Vicente, como não desiste diante de obstáculos menores como esses, vai em busca de algo que possa salvar a noite de sábado!

Afinal, estamos no século 21, e a tecnologia é a ferramenta perfeita para as intenções de um solteiro em um fim de semana até então improdutivo.

Vicente não titubeou: sentou o dedo no botão "power" de seu computador, ligando a máquina que, em instantes, esperançosamente, transformaria o seu tedioso sábado em algo vibrante em luxúria e lascívia.

A navegação começa!

Com olhos esperançosos diante da tela, ele entra em um site de bate-papo. Busca uma sala que seja perto da região onde mora. Começa a conversar com algumas pessoas, mas nada que rendesse o que esperava.

Mas o jogo virou, e a sorte finalmente apareceu.

O "nick" era Ruanita. Nome verdadeiro: Francislene. Lene, para o agora já íntimo Vicente. Sua descrição era como de uma deusa da Arcádia: cabelos louros, olhos cor-de-mel, 1,65 de altura e corpo sarado.

Com os olhos vidrados na tela, as pupilas dilatadas e a boca salivando, sentiu que ali encontrará o seu pote de ouro no fim do arco-íris daquele sábado cinzento.

Msn, fotos trocadas; se confirma o que tanto Vicente desejava. Ela não era feia! Sem medo, arriscou marcar um encontro para o mesmo dia. Deu certo! Topou!

A sorte escancarava-se! No entusiasmo, lembrou-se das sábias palavras de seu grande amigo Joilson:

— Na dúvida, coma.

Vicente se arruma todo pomposo. Põe seu melhor perfume. Pega as chaves do carro e parte rumo à glória daquela futura batalha de alcova, sem medo de ser feliz!

No meio do caminho, como que para confirmar a presença da sorte, ele liga para o número do celular que ela lhe deu para saber se já estava pronta. Ela disse que sim. Pensou:

— Que vozinha de puta. Amei!

Chegando ao destino do triunfo, lá estava ela: a descrição e as fotos se confirmam. Ele aproxima-se. Revela-se. Os dois sorriem mutuamente. A sorte também sorri; um sorriso maroto, sacana e sai à francesa, deixando os dois internautas a sós e à deriva.

Dirigem-se para um barzinho.

Papo vai, papo vem; o encontro rende. Os dois falam de suas experiências amorosas fracassadas, o que fazem da vida, o que pensam dela, enfim, Vicente e Lene estão definitivamente com aquela química necessária para uma futura troca de fluidos corporais.

Vicente, astuto, envolveu Lene na sua lábia sedutora e não demorou muito para acontecer o primeiro beijo. Um beijo do tipo rodo, misturado com o do tipo mamadeira. Em uníssono pensam: "A noite promete!"

Agora mais relaxados, conversas ao pé-do-ouvido. Falam besteirinhas um para o outro. Até que ele chama pelo garçom e lhe pede a conta.

Entram no carro e seguem rumo a um motel de beira de estrada já bem conhecido por Vicente.

Não poupando despesas, alugou a melhor suíte.

Afinal de contas, a Ruanita valia a pena! Arriba, arriba!

Vicente é um jovem vivido, e Lene também. Aliás, para Lene, sexo é uma guerrinha pra ver quem dá mais prazer a quem.

Tudo estava correndo maravilhosamente bem. A química era algo mágico, o encaixe foi perfeito. Os dois estavam chegando ao ápice quase que juntos. E assim foi!

Gemidos açoitaram o ar. Ele, com aquela cara de satisfação plena, estava em puro êxtase.

Enquanto voltava do trajeto que fez até a lua, observava algo estranho acontecendo. E era com Lene, a Ruanita.

Numa mistura de ritual indígena com a marcha comemorativa do dia do soldado, rodava em torno de si mesma, batia os pés no chão com força e falava repetidamente, angustiada:

- Ai, caralho, ai, caralho, ai caralho...

Incrédulo, perguntava-se: "Que porra é essa? O que está acontecendo com ela?"

Depois de alguns surpreendentes segundos, ela para.

"Climão". "Climão" total.

A pergunta que não queria calar foi respondida sem mesmo ser pronunciada, assim que Lene encarou o rosto estupefato de seu amante:

— Faço isso pra sensação, que fica depois que goza, passar! Tenho orgasmos múltiplos...

Vicente, olhos esbugalhados, a boca entreaberta, continua sem reação e sem palavras.

Ruanita deita ao seu lado. Passados alguns minutos, Vicente solta um sorriso sacana e diz:

— Eu já transei com muita mulher, mas uma que faz Marcha Soldado depois que goza é a primeira vez.

Eles nunca mais saíram juntos, e o computador de Vicente está desligado faz um bom tempo.

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