Arlindo
era um homem tímido. Tão tímido que quando andava, só olhava para baixo,
tentando, em vão, se esconder de olhares que, para ele, eram como flechas em
chamas que atravessavam sua alma.
Quando
pequeno — diziam as línguas ferinas do bairro do subúrbio carioca onde residia
— que Arlindo era proibido de sair de casa por
sua austera mãe, Dona Geni. Os moleques da rua, maldosos em sua desinibição de
adolescentes, caçoavam de Arlindo, chamando-o "carinhosamente" de
"Rapunzel da Vila da Penha". Não pelos longos cabelos ruivos em
tranças, mas sim por viver preso, sem poder sair ou mesmo brincar com os outros
meninos de sua rua.
Arlindo
vivia em um castelo imaginário construído e
vigiado por sua mãe.
Dona
Geni era uma mulher conservadora e possessiva.Alguns dos vizinhos até
estranhavam tamanha preocupação com o menino Arlindo. Parecia que o pobre
garoto era feito de ouro, ou possuía em si um tesouro a ser guardado em cofre
de banco. Mistério.
O
tempo passou, Arlindo cresceu, fez-se homem, mas não casou. Continuava ali,
vivendo com a mãe. E, em todas as manhãs, Dona Geni servia o café para seu
amado filho: a vitamina de leitinho com pera e o pão com queijo derretidinho na
chapa, com uma leve camada de manteiga.
Mas
manteiga somente em um lado. Apenas em um lado. E todo o santo dia era isso.
Em
casa ou no trabalho, Arlindo era um desastre ambulante. Esbarrava em tudo, não
se adequava aos espaços, parecia não se sentir entrosado com o corpo que
possuía. O desconforto e a insegurança eram palpáveis.
Era
um verdadeiro inferno para ele.
Mas
a vida dá voltas e, às vezes, nos arrasta. E foi assim com o Arlindo.
Dalva
era o nome dela. Um mulher vistosa, carnuda, de coxas bem torneadas e um olhar
sedutor, por vezes intimidador. Conheceram-se em uma festinha daquelas do
trabalho. Foi um encontro fulminante. Ao se darem conta, estavam no motel.
Dalva
era uma mulher vivida. De muitos homens, amores e desilusões. Quando topou sair
com Arlindo, disse para si mesma em um pensamento rápido:
— Pelo menos ele me faz rir...
Arlindo,
por sua vez, estava tenso. Já tinha transposto uma grande barreira, que foi
conseguir se aproximar de Dalva e chamá-la para um encontro.
Estar
no motel com ela, então, era como ganhar uma copa do mundo marcando o único gol
da final com a mão, em posição de impedimento e vestindo a camisa 10.
Mas
ele continuava a ser o mesmo menino tímido de outrora. E num ato de defesa, de
quem se sente acuado pelo inevitável, comentou:
— Não repare, Dalva, eu não tenho muita
experiência com mulheres. Tive apenas uma mulher em minha vida.
Dalva,
do alto de sua magnânima sabedoria de alcova e com uma expressão de predadora
nos olhos e nos lábios, respondeu serena:
— Mas eu já saí com vários. Eu cuido de tudo,
meu lindo.
Então,
despiram-se. Ela foi rápida. Ele, lento, desastrado e
sem jeito.
Ficava
de costas para evitar os olhares de Dalva e, quando chegou à última peça, a
cueca, parecia ainda mais desajeitado e inseguro.
Por
fim, retirou-a. E virou-se de frente para Dalva.
Silêncio.
Aquela
mulher dada a aventuras, e que julgava já ter visto e experimentado de tudo,
calou-se em um engolir a seco ao contemplar Arlindo.
E
exclamou:
— Nossa...
A
noite de luxúria foi excepcional.Sem tréguas, sem descanso.
Pela
manhã, a vida de Arlindo havia mudado para sempre.
E
isso, por um motivo simples, expresso no carinhoso e sincero apelido dito por
Dalva em uma frase de duas palavras:
— Meu Calabrezudo!
E
assim, a vida mudou para Arlindo. Dalva que o diga.