sexta-feira, 20 de maio de 2011

1 - O Rímel Erótico

Sentada naquela velha mesa de escritório, Crecilene estava eufórica.
- Acho que vai ser hoje, amiga!
Dilcinha, a amiga inseparável e confidente, compartilhava de tal entusiasmo.
- Ele te ligou, foi? E vai ser onde?
- Ele disse que é surpresa. Mas que eu vou adorar.
E assim a conversa prosseguia esfuziante entre as duas amigas e também colegas de trabalho de longa data. Crecilene a tempos queria um novo amor, um homem que a fizesse suspirar a todo instante. A balzaquiana preocupava-se com o passar do tempo: a idade que avançava e o medo incomensurável, quase mortal, de ficar solteira. Sua mãe, que apostaria a vida na virgindade imaculada da filha, a castigava todos os dias com um repertório interminável de frases perfidamente maldosas sobre a solteirisse da "moça".
- Você tem que se empenhar mais, minha filha. Senão depois fica como tia Eulália: gorda como uma jaca, e nenhum homem vai querer.
Mas há um mês, naquele dia de verão escaldante no centro do Rio de Janeiro, a vidinha mais-ou-menos da auxiliar administrativa Crecilene Maria começaria a mudar.
Marcondes era alto e magro. Sempre muito cheiroso e de cabelos bem penteados, encantou a moça com uma olhar safado, mas ao mesmo tempo carinhoso, quando se aproximou e se apresentou, com aquela voz de locutor de rádio FM, em dia de programação mela-cueca.
-  Como vai? Tudo bem? Marcondes, advogado.
Instantaneamente, ela lembrou-se dos conselhos de sua mãe.
- Tem que olhar para a mão esquerda. Para a esquerda.
Crecilene não se fez de desinibida e foi, como uma águia que busca a presa, com os olhos na mão esquerda daquele bem apessoado rapaz que ali se postava.
- É solteiro! - disse aliviada para si mesma em seus pensamentos.
O bate-papo segue animado. Um café, um chocolate, um croissant. Trocam telefones.
Em uma semana oficializam um namoro, com direito a conhecer a família e tudo mais.
Marcondes trabalhava bem perto do escritório de Crecilene e, como saíam no mesmo horário, o gentil advogado preocupava-se levando a "moça" em casa todos os dias. E obviamente, os amassos dentro do carro eram quase um ritual sagrado, uma cerimônia deliciosamente profana.
Ele era carinhoso, gentil, mas tinha mãos firmes, fortes. Ele sabia como, literalmente, pegar uma mulher.
Ela fazia o tipo quietinha, mas quando o "clima" esquentava, surgia uma fêmea ousada e com um vocabulário de safadezas de dar inveja em muita mulher-da-vida.
Ela sabia como deixar qualquer homem ávido por possuí-la.
E também sabia negar. E como sabia. Na hora H, retrocedia com maestria e desviava-se dos ataques com uma habilidade circense.
O pobre Marcondes voltava para sua casa, quase sempre, com um misto de frustração e dor escrotal aguda. Um sofrimento!
Com um mês de namoro e alguns "eu-te-amos" trocados, Crecilene achou que era a hora de deixar a natureza agir. Insinuou-se de maneira mais evidente e deixou claro para Marcondes que seria sua. Sem reservas. Sem pudores. Animado com a situação, ele não pensou muito e disse:
- É amanhã! Amanhã terás uma surpresa!
E no dia seguinte, saíram do trabalho direto para o motel. Como prometido, Marcondes levou sua querida namorada em um lugar luxuoso, escolhendo o melhor quarto, com direito à cachoeira e teto retrátil na piscina. Não poupando despesas para aquela noite especial.
Quarto adentro, ela pediu um minuto para se retocar. Dirigiu-se ao banheiro. Lá chegando, despiu-se na intenção de tomar um banho e, ao ficar nua, percebeu o imponderável.
Na pressa de sair para o trabalho, esqueceu de pintar — como sempre fazia, vaidosa que é — os pelos pubianos brancos que precocemente nasceram em sua vulva.
Não adepta de uma depilação mais ousada, tinha por hábito pintar os pelos de preto, cor natural de seus cabelos. Diante da situação em que se encontrava, xingou:
- Puta que pariu! E agora?!
Olhou a necessaire que trazia consigo e não teve dúvida:
- O rímel! O rímel!
E assim o fez. Tomou seu banho rapidamente e, ao sair, pintou cuidadosamente cada pelinho branco de sua vulva. O retoque ficou tão bom que divagou poeticamente:
- É a minha "asinha de graúna". Pretinha. Linda.
Marcondes estava ansioso. Sem roupa e com um apetite sexual voraz, não via a hora de começar a se divertir com Crecilene. Então, a moça sai do banheiro. Cheirosa, linda, uma delícia. E completamente nua.
Ele não deixa de notar a negritude que se apresenta em um lindo desenho em forma de delta, delicado, perfeito, bem abaixo de uma tatuagem tribal que se perfilava pelo ventre de sua amada. Sentiu a boca encher-se d'água.
Antes que ela pudesse pensar, ele a agarrou, puxou-a firme para a cama e mergulhou afoito em direção as suas coxas. Sem poder reagir, Crecilene pensava no rímel: "Vai manchar tudo! Vai manchar!"
Marcondes se esbaldava. Percorria cada pedaço daquela asinha de graúna com sua boca em um frenesi alucinante de desejo, arfando e gemendo de plena felicidade. Ela, impotente pela ação de seu namorado, deixou-se levar no inevitável.
Quando ele finalmente para e levanta suavemente a cabeça para olhar nos olhos de sua amada, um susto.
Incapaz de se conter, a moça solta uma gargalhada sincera e contagiante. Sem entender o ocorrido, Marcondes pergunta, tímido, o porquê do riso. Ela, ainda sem fôlego, balbucia: "Olhe no espelho, olhe!"
Ele assim o faz. E sem entender muito o que vê, expressa-se com a mais pura sinceridade:
- Olha, eu já chupei muita xoxota, mas uma que solta tinta é a primeira! A primeira!
Crecilene e Marcondes casaram-se e tiveram 3 filhos. E o rímel, agora, só nos olhos mesmo.

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